Publicado em 12 de novembro de 2010, às 11h28
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Apito
Lenda da arbitragem, Emídio Marques atua como instrutor da FIFA

Fábio Pereira

Nem mesmo um problema cardíaco aos 11 anos de idade e a notícia dada pelos médicos de que em seis meses perderia a vida, impediu que o jovem nascido no ano de 1944 na cidade de Jacareí, interior de São Paulo, se tornasse uma das grandes referências na arbitragem nacional.

Ligado ao esporte desde criança, Emídio Marques de Mesquita se viu numa situação complicada e pra lá de constrangedora quando foi informado pelos cardiologistas que não poderia exercer atividades físicas no período ginasial. A lesão no coração deixou o pré-adolescente afastado dos exercícios físicos e ciente que a carreira de atleta não poderia mais fazer parte de seus planos.

Foto: Divulgação
Após se destacar no basquete, Emidio migrou para o futebol
Sem poder praticar esportes e desconsolado com a situação, recebeu das mãos do seu professor de educação física um apito para auxiliá-lo durante as aulas na quadra do colégio. Foi desse modo que a transformação aconteceu em sua vida. “Recebi a notícia dos meus pais e do médico que tinha pouco tempo de vida e vi o mundo desabando em minhas costas. Mas o professor decidiu que eu tinha que ajudá-lo e assim o apito acabou mudando a minha história”, revelou Emídio.

Ao passar dos anos as previsões dos médicos foram por água abaixo e Emídio Marques percebeu que a escola era pouco para o que ele almejava. Aos 15 resolveu integrar o quadro da liga paulista de basquete e se transformou em um dos principais árbitros da modalidade no Estado, Brasil e Mundo, tanto que em 1964 foi escalado para apitar a final dos Jogos Olímpicos de Tóquio entre Estados Unidos e a antiga União Soviética. “Aquele foi um dos principais momentos da minha carreira. Foi a realização de um sonho poder arbitrar uma decisão entre as duas maiores potências do esporte na época”.

Engenheiro formado e um dos responsáveis por fundar a escola de árbitros na cidade em que nasceu, no ano de 1968, em meio a uma reformulação na arbitragem paulista, Emídio Marques foi convidado a integrar o quadro de profissionais da Federação Paulista de Futebol e iniciou sua trajetória pelos gramados do Brasil e do mundo.

Partidas memoráveis e decisivas marcaram a carreira do ex-árbitro Emídio Marques de Mesquita. Campeonatos estaduais, nacionais e internacionais são as principais lembranças do também ex-presidente do Sindicato dos Árbitros do Estado de São Paulo entre os anos de 1997 e 2000, mas nada como vivenciar a despedida do maior ídolo do esporte mundial em 1974. “O último jogo do Pelé pode ser considerado um dos momentos mais marcantes na minha carreira de árbitro de futebol. Um jogo inesquecível que nunca se apagará da minha memória. Poder fazer parte disso é algo inexplicável”, comemorou.

Foto: Fábio Pereira
Emidio Marques de Mesquita carrega consigo até hoje, o apito da decisão olímpica de basquete em 1964 entre EUA e URSS
Árbitro de futebol até 1993, desde a Liga Municipal de Jacareí, passando pela Liga Joseense, federações paulista e goiana de futebol, até chegar à CBF, Conmebol e FIFA, Emídio Marques, após encerrar a carreira ganhou a oportunidade de fazer parte do painel de instrutores da entidade máxima do futebol. “Assim que me aposentei fui convidado a ser instrutor da FIFA. Viajando por todo o planeta pude aprender alguns idiomas e conhecer 133 países, além de ajudar a quem sonha em seguir essa carreira”, ressaltou a lenda do apito, que se sente privilegiado por vivenciar importantes momentos do esporte. “Nunca imaginei que Deus fosse me dar tudo isso. Percebi ao longo de todos esses anos que tudo acontece passo a passo e sem pressa. Agradeço e me sinto feliz por ter feito parte da época em que o futebol viveu seu período áureo.”

Acompanhando o esporte bretão pelos quatro cantos do planeta durante mais de 40 anos, o instrutor acredita que uma nova fase está se desencadeando na arbitragem mundial. “Estamos vivendo um período de entressafra de árbitros. Após a Copa do Mundo da África foi encerrado um ciclo. Agora o momento é de renovação”, afirmou o ex-árbitro que espera que o mesmo aconteça no Brasil. “Em nível nacional vejo uma grande vontade de transformações, mas com grandes obstáculos em diferentes centros do País. Vejo estados bem desenvolvidos e outros ainda iniciando, mas acredito que tudo se nivele em pouco tempo”.

Foto: Barbara Caetani
Na sede da Federação Paulista de Futebol, Emidio à mesa com Marcio Verri Brandão, 
Roberto Perassi, Marcos Marinho, Gustavo Korte e integrantes do curso em que foi instrutor

Instrutor do Curso Internacional de Atualização de Arbitragem – evento para 21 árbitros vindos de sete países de língua inglesa – que aconteceu entre os dias 8 e 12 de novembro na sede da FPF, Emídio Marques vê a arbitragem de São Paulo como um verdadeiro espelho. “São Paulo está bem à frente dos outros estados. Faz um trabalho planejado e pode ser considerado excelência. Tem uma estrutura de qualidade e por isso está colhendo os bons frutos. Temos ótimos árbitros revelados em São Paulo que estão se destacando pelo País afora”, destacou.

Com mais de meio século de dedicação ao esporte e com a cabeça sempre direcionada a novos projetos, o instrutor da Fifa dá a dica para quem pretende seguir os mesmos passos de um dos principais árbitros da história do futebol brasileiro. “Arbitragem é vocação. Sempre peço para que não façam disso uma profissão e nem usem a arbitragem como um motivo para sair de casa. Para ser árbitro tem que amar a profissão”, concluiu.